Martha Gabriel, renomada futurista e uma das vozes mais influentes em inovação e transformação digital na América Latina, foi a responsável pelo fechamento do Estadão Summit Tecnologia e Inovação, em São Paulo. Com o tema “Entre Rupturas e Reinvenções: panorama das novas realidades”, Gabriel conduziu a audiência por uma profunda reflexão sobre o vertiginoso cenário de mudanças que estamos vivenciando e os caminhos para navegar neste novo mundo.

Um novo jogo, novas regras: a era da superaceleração

A sensação de que o mundo muda a uma velocidade estonteante não é apenas uma percepção, mas a realidade de um “jogo novo todos os dias”, como alertou Martha Gabriel. A principal implicação? “Precisamos conhecer a regra do jogo. Se não souber a regra, vai jogar errado”. Essa velocidade, combinada com a vasta abrangência das tecnologias digitais e a complexidade inerente a elas, transforma radicalmente todas as esferas da vida e dos negócios.

Gabriel reforça que o ser humano não foi biologicamente preparado para mudanças tão rápidas. “Passamos 99,88% do tempo evoluindo como ser humano. Nascia e morria e não acontecia nada”, pontuou na palestra, destacando nossa dificuldade inata em antecipar o futuro. Se a evolução entre o PC e a Internet levou uma década (1980-1990), hoje testemunhamos a convergência de múltiplas tecnologias – Inteligência Artificial (IA), Internet das Coisas (IoT), blockchain, biotecnologia – impulsionando uma evolução exponencial e simultânea.

Essa complexidade crescente é um dos maiores riscos atuais, dificultando a tomada de decisão. “Quando temos sistemas complexos, não conseguimos enxergar se puxar um fio e enxergar o resto”, explicou.

Da reação à antecipação: o desafio de lidar com a incerteza

Naturalmente, somos bons em reagir, mas o cenário atual exige uma nova habilidade: a antecipação. Para Martha Gabriel, “antecipar é essencial” e envolve o que ela chama de “letramento em futuros”. É preciso desenvolver métodos de estudo e análise para “não tomar decisão de longo prazo com cabeça de curto prazo”, um erro comum em tempos de incerteza.

Em um mundo onde “não sabemos de nada que está por vir”, a futurista desconfia de quem ostenta certezas absolutas. A abordagem mais sensata é traçar cenários a partir da análise de “sinais de mudanças” no presente – aqueles “estranhamentos” que podem indicar grandes transformações futuras.

Principais disrupções que moldam nossas novas realidades

Martha Gabriel elencou uma série de disrupções tecnológicas que estão na vanguarda da transformação:

1. IA Generativa: Considerada por ela uma das tecnologias mais poderosas atualmente, a IA Generativa “democratizou a criação de conteúdos” e impulsionou a “automação cognitiva avançada”. Está redefinindo profissões criativas, educação, marketing, design e muitas outras áreas. Gabriel enfatiza que “não tem como competir com quem tem IA” (Meio & Mensagem) e que todos precisarão entender e usar essa tecnologia.

2. Automação e Robótica Autônoma: Promovendo a “supressão de trabalhos operacionais”, essa tendência já é uma realidade, com exemplos como CEOs robôs. A questão, como Martha Gabriel frequentemente aponta, não é se a IA vai substituir humanos, mas como podemos usá-la para potencializar nossas capacidades e focar em habilidades essencialmente humanas.

3. Blockchain e Web3: Tecnologias que possibilitam a “descentralização de finanças, identidades, contratos inteligentes”. Em entrevistas, Gabriel já afirmou que blockchain, NFTs e Web3 “não são moda”, mas sim tecnologias fundamentais para o futuro (Kritikê Podcast).

4. Biotecnologia e CRISPR: Prometem a “extensão da longevidade” e avanços significativos na “bioeconomia”. No entanto, levantam questões éticas cruciais sobre manipulação genética, um tema que Gabriel aborda ao ressaltar a importância da humanidade e da ética diante do poder tecnológico. “Inteligência sem humanidade é cruel”, é uma de suas frases marcantes.

5. Realidade Estendida (XR): Abrangendo realidade virtual, aumentada e mista, a XR está criando formas de interação, aprendizado e entretenimento.

6. Computação Quântica: Com sua “capacidade exponencial de solucionar problemas”, essa tecnologia tem o potencial de revolucionar campos como medicina, materiais e, claro, a própria inteligência artificial.

Tendências emergentes: navegando no horizonte

Para finalizar, Martha Gabriel apontou tendências cruciais que definirão o futuro próximo:
● Economias Algorítmicas e Autônomas: Sistemas econômicos cada vez mais gerenciados por algoritmos e inteligência artificial.

● Expansão do Humano Aumentado: A crescente integração entre biotecnologia, neurotecnologia e IA, levando à “explosão da biohacking e cidadania biológica”.

● Sociedades Físico-Digitais Híbridas: O “futuro não é digital, é híbrido”, com a linha entre o mundo físico e o digital se tornando cada vez mais tênue.

● Governança Algorítmica e Ética das Máquinas: À medida que as máquinas se tornam mais autônomas, a necessidade de estabelecer princípios éticos e mecanismos de governança para suas ações é imperativa. “Quanto mais tecnologia temos no mundo, mais poder a gente tem. Só que poder e inteligência, sem humanidade, se tornam cruéis”.

● Resiliência Planetária Tecnológica: A tecnologia desempenhando um papel fundamental na busca por soluções para os desafios ambientais e na construção de um futuro mais sustentável.