Inteligência artificial maio 14, 2025
A Web está desaparecendo? O Futuro da Internet no labirinto da Inteligência Artificial

Estamos testemunhando o fim da web como a conhecemos? Essa foi uma das perguntas provocativas deixadas por Diogo Cortiz, pesquisador e professor, durante sua palestra no Estadão Summit de Tecnologia e Inovação. Mas não se trata de puro alarmismo: há uma transformação real — profunda, técnica e cognitiva — em curso.
A Internet não é a web
Antes de qualquer análise, é essencial fazer uma distinção que Cortiz ressaltou: internet e web não são sinônimos.
• A internet é a infraestrutura, a rede de computadores conectados globalmente.
• A web, criada por Tim Berners-Lee em 1989, é a principal aplicação dessa rede — o espaço dos navegadores, dos hiperlinks e, posteriormente, de portais, blogs e redes sociais.
A criação da web nasceu com um ideal descentralizado. Na Web 2.0, vimos florescer blogs, fóruns e comunidades em que o conteúdo era produzido e compartilhado de forma aberta. Mas esse cenário mudou drasticamente.
Jardins murados e a queda da web aberta
Hoje, vivemos dentro de “jardins murados”. Plataformas como Instagram, TikTok e outras redes fecham seus ecossistemas, limitam links externos e forçam a permanência do usuário dentro de suas interfaces. Um exemplo: você não pode colocar links clicáveis em posts no Instagram — a regra é clara: fique aqui.
Com isso, a web aberta, que funcionava como um repositório coletivo do conhecimento humano, vem perdendo espaço para plataformas que priorizam o controle sobre a experiência do usuário e seus dados.
Ascensão da IA: mudança de paradigma
Mas o que realmente está acelerando esse processo é a inteligência artificial generativa, especialmente com o surgimento de modelos como o ChatGPT — atualmente, o 5º site mais acessado do mundo. A forma como buscamos informações está mudando radicalmente.
• 52% das pessoas já fazem buscas no TikTok ou via chatbots com IA, segundo The Verge.
• 80% dos consumidores usam IA generativa em pelo menos 40% de suas buscas, segundo a Bain & Company.
• E com o AI Overview do Google, o tráfego orgânico dos sites caiu 70% em determinados contextos. Sites que produzem conteúdo informativo já não recebem o retorno que esperavam — os dados estão sendo processados diretamente pelos sistemas de IA.
As empresas, por sua vez, tentam criar labirintos técnicos para impedir que esses modelos acessem livremente seus conteúdos. Mas a pergunta que paira é: como competir com ferramentas que entregam a resposta pronta, sem precisar visitar site algum?
Da tecnologia à cognição
Para Cortiz, a questão não é apenas econômica ou tecnológica, mas cognitiva. A linguagem é uma função essencial do ser humano: é por meio dela que cooperamos, aprendemos e nos transformamos. E, ao delegar à IA a tarefa de buscar, compilar e até interpretar o conhecimento, estamos transformando profundamente como pensamos e retemos informação.
A IA não é apenas uma nova tecnologia. É uma tecnologia GPT (General Purpose Technology) — uma inovação com potencial de reestruturar mercados, comportamentos e até mesmo as bases da nossa cognição coletiva. Assim como a internet permitiu o delivery e a telemedicina, a IA está inaugurando novos paradigmas que ainda estamos começando a entender.
O que vem pela frente?
O desaparecimento da web, tal como a conhecíamos, não é o fim da internet, mas o início de uma nova era.
Ainda não sabemos quais modelos vencerão essa corrida — se serão plataformas abertas, híbridas ou sistemas fechados e altamente personalizados por IA. Mas é inegável: o futuro da informação, do conhecimento e da própria experiência digital está sendo redesenhado em tempo real.
E, nesse cenário, empresas, educadores, comunicadores e usuários precisam se fazer uma pergunta central: como garantir acesso à informação confiável, diversificada e crítica em um mundo mediado por inteligências artificiais?